"Essas questões não serão resolvidas apenas “parando de falar” como alguns sugerem. Parar de falar apenas silencia o sofrimento daqueles que mais precisam que isso seja assunto, daqueles que mais precisam ter voz e espaço." do autor
Por Ademir Fábio Quinot Ströher
O racismo é cultural. O combate a ele vai muito além da conquista do mercado de trabalho, dos espaços acadêmicos e do nivelamento das classes sociais.
Diante de uma sociedade que nos obriga a coexistir com situações de extrema fragilidade e sofrimento, em que se aceita como “naturais” ou “inevitáveis” realidades como: preconceito à fome, à miséria e à ignorância; se aponta como valores principais: a propriedade, o consumo a a ostentação, e se impõe a competição como forma de relacionamento vivencial entre as pessoas. Diante de tudo isso, a luta e a conquista pela liberdade se faz altamente necessária que passe pela consciência de que não existe superioridade de cultura, hábitos e pessoas.
Mas ninguém está livre de influências, a maioria de nós fomos criados afogados no machismo, no racismo, na homofobia, na antipatia frente determinadas manifestações culturais, estilos musicais e em diversas outras formas de manifestação da opressão e marginalização.
Por isso NÃO somos culpados pelos preconceitos que carregamos, isso é fato, mas SIM, somos duplamente culpados por aqueles(preconceitos) dos quais não queremos nos livrar. O questionamento dos fatos nos quais reconhecemos quaisquer manifestações de desigualdade deve ser trabalhado dentro de nós, através do auto-conhecimento e destruído por intermédio de um trabalho de auto-educação.
Lembrem-se: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”.
Muitas vezes somos levados a legitimar preconceitos que nos prejudicam diretamente, e nem nos damos conta disso. Mas você também não precisa ser gay para lutar contra a homofobia, e nem mulher para lutar contra o machismo, ou negro para lutar contra o racismo, ou mesmo indígena para defender a diversidade cultural dos povos originários, você precisa somente ser humano e ter bom senso. É importante que tudo seja problematizado e questionado, até chegarmos ao patamar que a suposta imagem de uma loja não seja mais importante que a dignidade de uma criança (como foi o caso da Loja Animale em SP). É preciso escancarar.
Essas questões não serão resolvidas apenas “parando de falar” como alguns sugerem. Parar de falar apenas silencia o sofrimento daqueles que mais precisam que isso seja assunto, daqueles que mais precisam ter voz e espaço.
Felizmente algumas pessoas tem acesso fácil às oportunidades e à educação(o que deveria ser um direito de todos e não privilégios de alguns), que para a maioria da periferia é algo distante, mas ainda assim, aqueles que tem acesso garantido, parecem não saber fazer bom uso disso, pois fica evidente nos comentários, de muitos, nas páginas da internet, que de política, sociologia e antropologia até hoje nada aprenderam, nem dos membros de suas famílias, que tem histórico de oportunidades e formação “intelectual”. O que é extremamente lastimável!
Direito é um conceito bem diferente de Justiça, e ainda mais distinto de privilégio(esse último, antagônico e geralmente confundido com direito), e o que está em jogo não é apenas Direito Social, mas sim uma profunda Justiça Social. O triste é que essa Justiça, está sob cuidados, ainda, daqueles que vivem de privilégios, e que em muitos casos aos cargos chegaram por privilégios, privilégios esses, que são a principal raiz das injustiças de todos os tipos, pois corrompe e aniquila qualquer espaço para o Direito de igualdade e consequentemente faz reinar as injustiças sociais.
O Racismo não é só um problema. O Racismo é um triste resultado de um problema chamado ignorância. E a ignorância é um mal cultural que além do dever de ser encarado e tratado como um problema social e político, deve ser entendido como problema resultante da “ignorantização” cultural.
Assista a reportagem da TV Carta:
Único aluno negro em uma sala de 100 no primeiro ano de administração na FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP), Renan Silva precisou se levantar do lugar para defender a adoção de cotas raciais na USP.
O desabafo foi uma resposta à oposição da professora e de alguns alunos em iniciar um debate sobre o assunto, como pedido pelo movimento negro, que acabara de entrar na sala. A negativa aumentou a tensão que terminou em uma discussão filmada por um aluno contrário às cotas. O vídeo, feito no dia 15 de março, viralizou: 2,3 milhões de acessos. Dias depois da briga, Renan conversou com CartaCapital no prédio da FEA. No vídeo ele relembra a discussão e explica porque, embora não seja cotista, defende que a USP adote o sistema de cotas raciais.

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