Da literatura à música, a África sempre rendeu bons frutos na arte
Adriana Izel , Maíra de Deus Brito
Não é de hoje que o território africano é inspiração para a produção artística mundial. Valorizar as cores, as sonoridades e a religiosidade de Cabo Verde, Gana, Nigéria e Senegal, entre outros países, é uma maneira de resgatar a ancestralidade africana e de lutar pela afirmação da cultura negra. No dia da África, celebrado amanhã, o Correio seleciona artistas da música, das artes plásticas, do teatro e da literatura que têm como ponto de partida para o seu trabalho o continente, matriz da humanidade.
“Nós somos a África. Ela está no nosso corpo, na nossa mente e no nosso espírito. Muitas vezes, pessoas negras da diáspora que descendem de escravos reprimem a sua ascendência africana por causa da influência ocidental. Não há nenhuma maneira de não ser influenciada pela cultura africana porque é a nossa própria cultura. Nossa jornada é dedicada aos nossos antepassados”, comenta Niambi que, ao lado de Thandiwe, forma o duo norte-americano Oshun.
A matriz musical
Há algumas semanas, graças às redes sociais, o Brasil descobriu uma dupla que promete ser um dos principais nomes do rap mundial. Formado por Niambi e Thandiwe (foto), duas jovens negras norte-americanas de 19 anos, o duo Oshun se autodenomina como uma mistura de neo-soul, hip-hop e jazz. As referências vão de Erykah Badu e Lauryn Hill a John Coltrane e Miles Davis.
“Passávamos muito tempo juntas e nos tornamos amigas próximas. Foi a questão espiritual que trouxe a música para a gente”, conta Niambi, que conheceu a parceira musical na Universidade de Nova York. Ambas são alunas do programa Martin Luther King Jr, que concede bolsas para estudantes de diversas origens étnicas e culturais. “Esse espaço é importante porque foi ele que nos uniu. Nós amamos tanto o nosso povo e esse é um lugar para aprender e respeitar líderes e outros movimentos de libertação”.}
Nos palcos
O diretor de teatro Márcio Meirelles e o dramaturgo Aldri Anunciação (foto), que estão trabalhando juntos no espetáculo O campo de batalha (com recente temporada em Brasília), são dois ótimos exemplos de profissionais que levam aos palcos a questão afro-brasileira.
Meirelles criou nos anos 1990, ao lado de Chica Carelli, o Bando de Teatro Olodum, grupo baiano formado somente por atores negros e que tem no currículo peças como Cabaré da RRRaça (1997) e Bença (2010), que retratam a cultura africana. “Percebi a falta de um teatro que fosse realmente baiano, que tivesse sotaque e que representasse essa cultura da pele negra e das tradições ancestrais. Também tinha um deficit de atores negros. A partir daí, me juntei com outros artistas e nos associamos ao Olodum”, relembra.
Estética afro
Com apenas 25 anos, o artista plástico baiano Muhammad Bazila (foto) já levou suas obras para o exterior. Radicado em Brasília desde 2008, Muha Bazila (é como ele assina suas obras) foi o primeiro brasileiro a participar da exposição Art Freedom em Paris. Em outubro do ano passado, ele expôs o trabalho que vem desenvolvendo até agora: a série Odara, com pinturas de mulheres negras e uma sequência que retrata artistas negros, como o sambista Cartola.
“Os quadros foram elogiados na mostra, que contou com a presença de artistas africanos e europeus. Inclusive, ganhei o prêmio Solidarité”, conta Bazila. “Escolhi desenvolver essas temáticas por considerar importante a valorização da estética afro. Quero mostrar a beleza da mulher negra que foge do estereótipo do corpo hipersexualizado”. Atualmente, é possível ver a produção do artista na exposição Ondeandaaonda, no Museu Nacional. A mostra reúne parte do acervo de várias galerias independentes do Distrito Federal.
Cultura no papel
A literatura é repleta de autores que retratam a África e sua cultura. A escritora angolana Madalena da Silva Vilela (foto), 31 anos, tem tentado mostrar um pouco do que vive em seu país, por meio de histórias de ficção. Na verdade, a Angola costuma ser pano de fundo em suas obras, como em Engano, lançado neste ano no Brasil, e em Ninguém como tu (2012).
Ela começou o envolvimento com contos aos 9 anos, assim que aprendeu a ler e a escrever. Suas vivências, experiências e divagações ganharam espaço no papel, mas a escritora conta que existe uma dificuldade em lançar obras em Angola e divulgar essa cultura. “O mercado de editoras ainda é muito fechado. Andei por várias editoras para enfim encontrar uma para lançar”, conta.
As obras de Madalena também focam na questão da mulher negra. Suas protagonistas são o inverso do que os leitores estão habituados. “Adriana, personagem de Engano, é o oposto de uma menina que se apaixona pelo príncipe. E isso mostra que as mulheres devem ficar focadas naquilo que acreditam e lutar pelos seus sonhos”, define.
Não é de hoje que o território africano é inspiração para a produção artística mundial. Valorizar as cores, as sonoridades e a religiosidade de Cabo Verde, Gana, Nigéria e Senegal, entre outros países, é uma maneira de resgatar a ancestralidade africana e de lutar pela afirmação da cultura negra. No dia da África, celebrado amanhã, o Correio seleciona artistas da música, das artes plásticas, do teatro e da literatura que têm como ponto de partida para o seu trabalho o continente, matriz da humanidade.
“Nós somos a África. Ela está no nosso corpo, na nossa mente e no nosso espírito. Muitas vezes, pessoas negras da diáspora que descendem de escravos reprimem a sua ascendência africana por causa da influência ocidental. Não há nenhuma maneira de não ser influenciada pela cultura africana porque é a nossa própria cultura. Nossa jornada é dedicada aos nossos antepassados”, comenta Niambi que, ao lado de Thandiwe, forma o duo norte-americano Oshun.
A matriz musical
Há algumas semanas, graças às redes sociais, o Brasil descobriu uma dupla que promete ser um dos principais nomes do rap mundial. Formado por Niambi e Thandiwe (foto), duas jovens negras norte-americanas de 19 anos, o duo Oshun se autodenomina como uma mistura de neo-soul, hip-hop e jazz. As referências vão de Erykah Badu e Lauryn Hill a John Coltrane e Miles Davis.
“Passávamos muito tempo juntas e nos tornamos amigas próximas. Foi a questão espiritual que trouxe a música para a gente”, conta Niambi, que conheceu a parceira musical na Universidade de Nova York. Ambas são alunas do programa Martin Luther King Jr, que concede bolsas para estudantes de diversas origens étnicas e culturais. “Esse espaço é importante porque foi ele que nos uniu. Nós amamos tanto o nosso povo e esse é um lugar para aprender e respeitar líderes e outros movimentos de libertação”.}
Nos palcos
O diretor de teatro Márcio Meirelles e o dramaturgo Aldri Anunciação (foto), que estão trabalhando juntos no espetáculo O campo de batalha (com recente temporada em Brasília), são dois ótimos exemplos de profissionais que levam aos palcos a questão afro-brasileira.
Meirelles criou nos anos 1990, ao lado de Chica Carelli, o Bando de Teatro Olodum, grupo baiano formado somente por atores negros e que tem no currículo peças como Cabaré da RRRaça (1997) e Bença (2010), que retratam a cultura africana. “Percebi a falta de um teatro que fosse realmente baiano, que tivesse sotaque e que representasse essa cultura da pele negra e das tradições ancestrais. Também tinha um deficit de atores negros. A partir daí, me juntei com outros artistas e nos associamos ao Olodum”, relembra.
Estética afro
Com apenas 25 anos, o artista plástico baiano Muhammad Bazila (foto) já levou suas obras para o exterior. Radicado em Brasília desde 2008, Muha Bazila (é como ele assina suas obras) foi o primeiro brasileiro a participar da exposição Art Freedom em Paris. Em outubro do ano passado, ele expôs o trabalho que vem desenvolvendo até agora: a série Odara, com pinturas de mulheres negras e uma sequência que retrata artistas negros, como o sambista Cartola.
“Os quadros foram elogiados na mostra, que contou com a presença de artistas africanos e europeus. Inclusive, ganhei o prêmio Solidarité”, conta Bazila. “Escolhi desenvolver essas temáticas por considerar importante a valorização da estética afro. Quero mostrar a beleza da mulher negra que foge do estereótipo do corpo hipersexualizado”. Atualmente, é possível ver a produção do artista na exposição Ondeandaaonda, no Museu Nacional. A mostra reúne parte do acervo de várias galerias independentes do Distrito Federal.
Cultura no papel
A literatura é repleta de autores que retratam a África e sua cultura. A escritora angolana Madalena da Silva Vilela (foto), 31 anos, tem tentado mostrar um pouco do que vive em seu país, por meio de histórias de ficção. Na verdade, a Angola costuma ser pano de fundo em suas obras, como em Engano, lançado neste ano no Brasil, e em Ninguém como tu (2012).
Ela começou o envolvimento com contos aos 9 anos, assim que aprendeu a ler e a escrever. Suas vivências, experiências e divagações ganharam espaço no papel, mas a escritora conta que existe uma dificuldade em lançar obras em Angola e divulgar essa cultura. “O mercado de editoras ainda é muito fechado. Andei por várias editoras para enfim encontrar uma para lançar”, conta.
As obras de Madalena também focam na questão da mulher negra. Suas protagonistas são o inverso do que os leitores estão habituados. “Adriana, personagem de Engano, é o oposto de uma menina que se apaixona pelo príncipe. E isso mostra que as mulheres devem ficar focadas naquilo que acreditam e lutar pelos seus sonhos”, define.
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