sexta-feira, 29 de maio de 2015

O genocídio esquecido - A revolta dos Herreros e Nama na Namíbia

CONVERSA DE PRETO - Walter Passos


"Viva a memória de Hendrick Vitbooi, Samuel Maharero, e dos 65.000 mil hereros (70% da população) e 10.000 Namas (50% da população) que foram dizimados pelas forças genocidas da Alemanha.'

Por Walter Passos
O POVO HERERO

Provenientes da migração dos bantos da região oriental da África, o povo Herero instalou-se na Namíbia entre os séculos XVII e XVIII. Atualmente, tem sua população estimada em 240 mil pessoas vivendo na Namíbia, Botsuana e Angola. O Ovaherero engloba vários subgrupos, incluindo o Ovahimba, o Ovatjimba o Ovambanderu e os vaKwandu, grupos em Angola incluem o vaKuvale, vaZemba, Hakawona, Tjavikwa e Tjimba (herero pobres) e Himba que regularmente atravessam fronteira da Namíbia com Angola quando migram com os seus rebanhos.
Durante o período colonial, os europeus tentaram defini-los como grupos étnicos distintos, mas as pessoas consideram-se todos Ovaherero. Apesar de divididos em diversos subgrupos, possuem o mesmo idioma herero, além de português em angola, inglês em Botsuana, e inglês e africâner na Namíbia. Também, os antropólogos brancos a serviço do colonizador-racista tentaram dividi-los em seus estudos de antropologia dizendo que são de origens diferentes. Hábito dos brancos em dividir para governar ou exterminar.

O POVO NAMA OU NAMAQUA
Nama (em fontes mais antigas também chamadas Namaqua) é um grupo étnico da África do Sul, Namíbia e Botsuana. Eles falam a língua Nama do Khoe-Kwadi (Khoisan central). Os Namas são o maior grupo de pessoas Khoikhoi, a maioria deles já desapareceu em grande parte como um grupo, exceto os Namas. Muitos vivem em Namaqualand.

Após a Conferência de Berlim, a Alemanha invadiu o continente africano e além de outras regiões anexou à Namíbia, enviando para a África invasores (colonos ou descobridores – denominações usadas pela historiografia branca) que pilharam as terras e riquezas da população nativa. Difundido a supremacia branca e comparando o povo herero a babuínos.

Os homens eram constantemente espancados até a morte e as mulheres vítimas de estupro e escravizadas sexuais dos colonos e soldados alemães.

Como consequência dessas violações, em 12 de janeiro de 1904, o povo Herero resolveu resistir ao invasor-colonizador-racista alemão, liderados por Samuel Maharero. Conforme os historiadores, essa guerra de libertação teve como consequência o primeiro genocídio do século do XX, impetrado pelo império alemão contra homens, mulheres e crianças originais: as populações Herero e Nama, habitantes na Namíbia.
Samuel Maharero
Líder guerreiro e chefe do povo Herero, ainda criança foi catequizado e frequentou escolas luteranas que o viam como um futuro pastor, ao crescer e tomar consciência da opressão rebelou-se contra os invasores alemães e enfrentou as famigeradas tropas colonialistas. Teve que exilar-se em Botsuana onde continuou líder dos exilados herero, vindo a falecer em 1923. É relembrando na Namíbia como herói em 26 de janeiro, dia dos hereros.

Hendrik Witbooi
Hendrik Witbooi tem o seu rosto estampado nas notas bancárias na Namíbia. Para seus seguidores, ele era conhecido por seu nome de Nama Khaob! Nanseb/Gabemab, que significa "O capitão que desaparece na grama”, uma referência à sua famosa habilidade como lutador de guerrilha. Nasceu em 1830 em uma família de líderes.

Hendrik Witbooi era um homem religioso. Mais tarde, durante a guerra com os alemães, em 1904-1905, Witbooi voltou ao seu povo com a convicção de que Deus o havia de guiá-los para lutar por sua liberdade contra os imperialistas.

Em Outubro de 1904, dez meses após os hereros estarem em guerra contra os alemães, Hendrik Witbooi levou Namaland a aliança contra os alemães. Em 28 de outubro de 1905, perto de Vaalgras, com 80 anos de idade, lutou com os seus soldados e morreu no campo de batalha decorrente de um ferimento na coxa.

GENOCÍDIO PRATICADO PELOS ALEMÃES

Com a mobilização do povo herero, o kaiser Wilhelm II enviou 14.000 mil soldados sob o comando do Tenente-General Lothar Von Trotha, conhecido pela brutalidade ao combater a revolta boxer na China e a violenta repressão aos povos pretos que ofereceram resistência à ocupação alemã na África Oriental (Ruanda, Burundi e Tanzânia), e ao chegar à Namíbia disse a sua finalidade:

- "Eu acredito que a tribo herero deve ser exterminada.”.
E escreveu:
- "O exercício da violência e do terrorismo é a minha política. Eu vou destruir as tribos Africanas com fluxos de sangue e de dinheiro. Só após essa limpeza pode surgir algo novo, que permanecerá.” E em um comunicado ao povo Herero disse:
- "Todos os herero devem deixar a terra. Se recusarem, então eu vou obrigá-los a fazê-lo com as grandes armas. Qualquer herero encontrado dentro de fronteiras alemãs, com ou sem uma arma, vai ser abatido. Não serão tomados prisioneiros. Essa é a minha decisão.”.
Inspirador e executor do massacre dos hereros na Namíbia o general Lothar Von Trotha seguiu um plano elaborado na Conferência de Berlim de 1885, onde os Hereros e Namas foram eliminados sistematicamente, já que o objetivo era apoderar-se de suas terras; para isso estabeleceram um campo de concentração, trabalhos forçados e execuções em massa.

Em contraste, uma carta do chefe herero Samuel Maharero ao seu povo logo após a eclosão da guerra estabelece que os ingleses, Boers, missionários e pessoas de outras tribos não viriam a ser prejudicados. A história tem demonstrado que ambas as instruções foram diligentemente realizadas.
Em uma batalha decisiva no Hamakari, perto Waterberg, em 11 de Agosto de 1904, as tropas de Von Trotha cercaram a nação herero em três lados e estes foram brutalmente derrotados. Em uma jogada cínica, ele deixou o caminho aberto apenas para a área do deserto do Kalahari. O plano de batalha para as pessoas que escaparam das balas do exército alemão deveriam morrer de sede e poços em torno de 150 milhas (240 km) ao redor do deserto ou eram patrulhados ou envenenados, e aqueles hereros que vieram rastejando para fora do deserto, desesperados por água, foram mortos à baioneta. Isto os deixou com uma única opção: atravessar o deserto dentro de Botsuana, na realidade, marchar para a morte. Esta é, na verdade, como a maioria dos hereros foi exterminada.
Devido à escassez de trabalho na colônia, o extermínio da campanha de Von Trotha foi finalmente parado por Berlim, e os hereros sobreviventes foram aprisionados em campos de concentração, obrigados ao trabalho escravizado, sobrecarregados, com fome, e expostos a doenças como a febre tifoide e a varíola, a maioria dos homens pereceu e as mulheres foram transformadas em escravas sexuais.

O resultado desta política foi que, a partir de 1904 para 1908, foram reduzida a nação herero de 80.000 a 15.000 pessoas famintas e refugiadas em sua própria terra.
Após a guerra, todos os herero de idade superior a sete anos eram obrigados a vestir um disco metálico em torno de seus pescoços com seu número de registro, designando-os como mão de obra disponível.

O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO NA ILHA SHARK

A ilha de Shark foi o local usado de 1904 a 1907 que confinou membros das tribos Herero e Nama. Ao longo dos três anos foi o acampamento onde 3000 pessoas encontraram a morte. Para todos os efeitos, considera-se um acampamento de morte, tal como o seu único propósito era o de exterminar pessoas herero e Namaka.
O trabalho forçado do acampamento foi utilizado para construir Lüderitz e vias férreas. Outros campos existiam em regiões invadidas pela Alemanha, incluindo Swakopmund, Windhoek e Okahandja.

EXPERIÊNCIAS GENÉTICAS

Foi no Campo de Concentração da Ilha de Shark que Eugen Fischer realizou as suas primeiras experiências "médicas" sobre raça, genética e eugenia, utilizando como cobaias tanto hereros como os mestiços descendentes dos estupros das mulheres herero. Sob sua supervisão, foram preservados corpos e cabeça que tinham sido enforcados e enviados à Alemanha para dissecção.

Fischer tornou-se diretor do Instituto Kaiser Wilhelm de Antropologia, Hereditariedade Humana e Eugenia. Foi coautor do livro - Os Princípios da Hereditariedade, Raça e Higiene - que se tornou o livro padrão sobre o assunto na Alemanha.

Hitler nomeou Fischer como reitor da Universidade de Berlim, em 1933, onde lecionou medicina para médicos nazistas. Fischer é por vezes referido como o pai da moderna genética. Este homem foi um grande defensor do aborto e da esterilização dos não brancos.

“EU TAMBÉM VIAJO PARA O CÉU EM UMA CARROÇA.” Em seu livro Heróis Herero, Jan-Bart Gewald descreve a morte de um dos líderes cristãos herero, testemunhado por um missionário alemão Friedrich Meier:

“Fraco de doença e de maus tratos, Kukuri foi transportado para a sua execução nas costas de um carro de boi. Ele não mostrou o menor vestígio de medo, mas, em vez disso olhou como se estivesse indo para um casamento! Em uma etapa da viagem, disse ao “Pastor” Meier: como Elias, também eu vou viajar para o céu em um vagão.

Quando eles chegaram o local ainda estava sendo preparado. Meier temia pela tranquilidade de Kukuri e pediu que parasse de olhar para a forca. Ele respondeu:

- Por que não devo olhar para ela? Não é “a minha madeira" (a minha cruz)?

Os dois oraram e juntos cantaram um belo hino: Então tome minha mão e leva-me. Então Kukuri disse:
- Parece que você ainda teme que eu tenha medo, mas quando um pai chama seu filho, o filho tem medo de ir para ele? Dê a minha esposa, que está em Okahandja, a minha saudação e diga a ela que eu já morri na fé do Senhor Jesus Cristo, assim também diga aos meus filhos, pois você deve sempre vê-los.

Em seguida, disse:
- Senhor Jesus, me ajude.

Kukuri subiu a escada e a corda foi colocada em volta do seu pescoço. Como ele estava caindo, o nó escorregou, de forma que ele caiu no chão, inconsciente. Dois soldados o levantaram e, seguindo ordens, e realizaram disparos de arma de fogo, matando-o. Assim entrou Kukuri na presença do Senhor.

Ainda hoje, muitos Hereros são membros da Igreja Luterana, defendendo esta ideologia, e comungando com os brancos que assassinaram seu povo na chamada “Guerra de Pacificação da Namíbia”.

CONCLUSÃO
A Alemanha compensou os Askenazis (descendentes dos kazars) que se dizem judeus após a 2ª guerra mundial em milhões de dólares e apoiou o mundo branco ocidental cedendo terras no Oriente Médio, para a criação do estado de Israel. Mas, até hoje o brutal genocídio dos povos Herero e Nama não foram compensados, os seus descendentes que perderam terras, gados, e potenciais recursos minerais que estão nas mãos dos descendentes de alemães, não receberam das autoridades alemãs nenhum pedido de desculpas e reparação. Apesar dos protestos e mobilizações das minorias étnicas Herero e Nama.

O povo preto não pode esquecer-se dos 105 anos da resistência dos Herero e Nama! E também do Genocídio impetrado pelos Alemães.

Viva a memória de Hendrick Vitbooi, Samuel Maharero, e dos 65.000 mil hereros (70% da população) e 10.000 Namas (50% da população) que foram dizimados pelas forças genocidas da Alemanha.

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