CONEXÃO JORNALISMO
Da Redação
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Ataque à milenar capital assíria já entrou para a lista de atrocidades cometidas pelos extremistas muçulmanos. Mas para quem tem executado de forma cruel milhares de pessoas, inclusive mulheres e crianças, dizimar o patrimônio histórico deve ter sido bem tranquilo. A Unesco classificou o ato como um crime de guerra.
Leia reportagens da DW ("Destruição de Nimrud pelo Estado Islâmico causa indignação") e da BBC Brasil ("Por fé e lucro, 'Estado Islâmico' promove onda de destruição de patrimônio histórico no Iraque" - e chegou a informação de que a cidade histórica de Hatra também teria sido destruída, com o uso de explosivos - leia mais abaixo):
Destruição de Nimrud pelo Estado Islâmico causa indignação
Unesco chama de crime de guerra a destruição da cidade milenar, uma das capitais do Império Assírio. Líderes sunitas e xiitas condenam barbárie perpetrada pelos jihadistas.
A Unesco afirmou nesta sexta-feira (06/03) que a destruição da cidade histórica de Nimrud, um tesouro arqueológico no norte do Iraque, pelo movimento extremista "Estado Islâmico" (EI) é um crime de guerra.
"Não podemos continuar calados. A destruição deliberada do patrimônio cultural constitui um crime de guerra, e apelo a todos os responsáveis políticos e religiosos para que se levantem contra essa nova barbárie", escreveu, num comunicado, a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova.
Ela afirmou ter recorrido ao presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e à procuradora do Tribunal Penal Internacional e apelou à comunidade internacional para que una esforços para conter a catástrofe.
Para Bokova, o que o "Estado Islâmico" está fazendo no Iraque é uma limpeza cultural. Segundo ela, o grupo não poupa nada nem ninguém, visando vidas humanas e minorias e destruindo de forma sistemática um patrimônio milenar da humanidade.
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Exemplo de escrita cuneiforme, muito usada na antiga Mesopotâmia, em Nimrud |
Também a Universidade Al-Azhar do Egito, uma autoridade islâmica respeitada pelos sunitas, manifestou indignação pela destruição de Nimrud e declarou que os jihadistas devem ser erradicados.
"O que a organização terrorista Daesh está fazendo, ao destruir monumentos nos territórios que ela controla no Iraque, na Síria e na Líbia é um crime de grandes proporções contra todo o mundo", afirmou a Al-Azhar, usando a sigla árabe para o Estado Islâmico. "O que Daesh está fazendo é um crime de guerra que a história jamais esquecerá", afirmou, acrescentando que a lei islâmica proíbe a destruição de monumentos.
O principal líder xiita do Iraque, o aiatolá Ali al-Sistani, disse no seu sermão desta sexta-feira que a destruição comprova a barbárie e selvageria do "Estado Islâmico" e também a hostilidade dos jihadistas perante o povo iraquiano, não apenas no presente, mas também perante sua história e civilizações antigas.
Cidade milenar e capital do Império Assírio
O ministério do Turismo do Iraque afirmou que o EI começou nesta quinta-feira a destruir as ruínas assírias de Nimrud, alguns dias após a difusão pelos jihadistas de um vídeo que mostra a destruição de esculturas pré-islâmicas de valor inestimável no norte do Iraque.
O EI "tomou de assalto a cidade histórica de Nimrud e começou a destruí-la com escavadeiras", disse o Ministério do Turismo e das Antiguidades na sua página oficial na rede social Facebook.
A presidente da comissão de Turismo e Antiguidades da província de Ninive, onde fica Nimrud, Balquis Taha, disse que a cidade contém tesouros arqueológicos de valor incalculável. Taha mostrou-se especialmente preocupada com o destino das estátuas de touros alados existentes no local.
Muitos monumentos e outras relíquias foram retirados de Nimrud e levados há muitos anos para Londres, onde estão no Museu Britânico, ou para Bagdá.
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Cavalo com cabeça em forma humana na entrada de um edifício real em Nimrud |
A cidade de Nimrud, fundada no século 13 A.C., foi uma das capitais do Império Assírio. Os tesouros das suas tumbas reais foram uma das principais descobertas arqueológicas do século 20. Situa-se nas margens do rio Tigre, cerca de 30 quilômetros a sudeste de Mossul, que é a principal cidade do norte do Iraque e está sob controle do EI desde junho passado.
A destruição de Nimrud é parte da campanha do grupo extremista sunita para impor sua interpretação da lei islâmica por meio da eliminação de relíquias e ruínas pré-islâmicas que, segundo os radicais, promovem a idolatria.
No século 9 A.C., Nimrud, também chamada de Kalhu, era a capital da Assíria, um reino antigo cujo território cobria boa parte do Iraque e da Síria.
"É realmente chamada de berço da civilização ocidental, por isso essa parte em especial é tão devastadora", afirmou a arqueóloga Suzanne Bott, que supervisionou o antigo sítio arqueológico para o Departamento de Estado dos EUA.
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Por fé e lucro, 'Estado Islâmico' promove onda de destruição de patrimônio histórico no Iraque
O grupo extremista islâmico autodenominado "Estado Islâmico" (EI) começou a destruir mais um sítio arqueológico no norte do Iraque, segundo fontes curdas.
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Hatra era uma cidade fortificada que resistiu a ataques dos romanos |
A antiga cidade de Hatra foi fundada durante o império parta, há mais de dois mil anos, e é considerada pela Unesco, órgão da ONU, um patrimônio histórico da humanidade.
No início desta semana, militantes do grupo haviam começado a demolir as ruínas da cidade de Nimrud, antiga capital do império assírio fundada no século 13 a.C..
O "EI" também divulgou na semana passada um vídeo em que destruía artefatos assírios em um museu em Mosul, cidade localizada a 30km de Nimrud.
Relatos também dão conta de que extremistas incendiaram uma biblioteca na mesma cidade, junto com mais de 8 mil manuscritos.
Essa onda de destruição de patrimônios históricos e culturais gerou revolta entre autoridades e pesquisadores.
"Eles estão apagando nossa história", disse o arqueologista iraquiano Lamia al-Gailani.
Falsos deuses
No controle de grandes áreas na Síria e no Iraque, o grupo extremista segue uma vertente radical da sharia (lei islâmica) segundo a qual estátuas são usadas para idolatrar falsos deuses.
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Para extremistas, estátuas e outros símbolos promovem a apostasia |
Ao mesmo tempo, o "EI" pôs à venda alguns artefatos no mercado negro, transformando antiguidades em uma importante fonte de renda para o grupo, junto com o petróleo e sequestros.
O primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, prometeu punir os responsáveis.
"Esses bárbaros, terroristas criminosos estão tentando destruir o patrimônio da humanidade", disse Abadi.
"Vamos persegui-los para fazer com que paguem por cada gota de sangue derramada no Iraque e pela destruição da civilização do Iraque.''
Força política e cultural
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O império parta era uma grande força política e cultural no Iraque antigo.
No seu auge, no século 2 a.C., seu território cobria uma região que hoje vai do Paquistão à Síria.
Localizada a 110km a sudoeste de Mosul, Hatra era uma cidade fortificada que resistiu a ataques do império romano graças às suas muralhas e torres.
Segundo Said Mamuzini, do Partido Democrata Curdo, os militantes começaram a destruí-la com pás.
"A cidade de Hatra é grande, e muitos artefatos daquela era estavam protegidos em seu interior", explicou Mamuzini, acrescentando que extremistas já haviam retirado o ouro e a prata que havia no local.
Crime de guerra
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou a destruição um "crime de guerra", disse seu porta-voz.
Na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU proibiu todo o comércio de artefatos históricos vindos da Síria e acusou militantes do grupo extremista de saquear a herança cultural para aumentar sua capacidade de "organizar e realizar ataques terroristas".
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Museu em Mosul também foi destruído por militantes |
"Isso deixa claro que nada está à salvo da limpeza cultural em curso no país", afirmou Irina Bokova, diretora da Unesco.
Esta não é a primeira vez que patrimônios históricos da humanidade são destruídos por extremistas.
Em 2013, militantes no Mali incendiaram bibliotecas onde eram guardados manuscritos históricos.
E, em 2001, o Talebã explodiu estatuas conhecidas como os Budas de Bamiyan, que datavam do século 6.
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EI explode ruínas assírias milenares em Hatra, Iraque
Grupo terrorista islâmico demole Patrimônio Cultural da Unesco de 2.300 anos com explosivos e escavadeiras. Destruição faz parte da cruzada dos jihadistas contra "idolatria" no território sob seu controle.
Depois das recentes depredações nas cidades iraquianas de Mossul e Nimrud, o "Estado Islâmico" (EI) prossegue sua cruzada contra o patrimônio cultural mundial.
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A cidade de Hatra, antes de ser destruída |
Seu mais recente alvo foi a cidade milenar de Hatra (ou Al Hadra), no noroeste do Iraque, demolida pelos jihadistas, segundo divulgou a secretaria de Turismo e Antiguidades da cidade de Mossul.
Habitantes das proximidades de Hatra escutaram duas grandes explosões na manhã deste sábado (07/03), e depois viram escavadeiras operando no local. Segundo autoridades curdas de Mossul, os milicianos do EI já vinham transportando objetos históricos para fora do sítio arqueológico desde a quinta-feira.
Declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, Hatra, em Nínive, abriga ruínas assírias bem conservadas, datando de deste o século 3º a.C.. Seu valor histórico-cultural é comparado ao de Palmira, na Síria, e Baalbeck, no Líbano.
Perda irreparável
Em entrevista à agência alemã de notícias DPA, Hamid al-Juburi, diretor do Departamento de Antiguidades da Universidade de Mossul, a demolição das milenares ruínas "representa uma perda impossível de ser reparada".
Nesta sexta-feira, causaram indignação internacional as notícias de que o EI destruíra com escavadeiras e outros equipamentos pesados a antiga capital assíria Nimrud, um tesouro arqueológico da antiga Mesopotâmia. Antes, fora divulgado um vídeo em que seus adeptos destruíam antiguidades de valor inestimável no museu de Mossul.
Ao lado de execuções públicas e outras atrocidades praticadas contra os seres humanos, os terroristas do EI declararam a intenção de eliminar de seu território todos os testemunhos de "idolatria" pré-islâmica, da mesma forma como já atacaram patrimônios cristãos e judaicos.
Em suas incursões de barbárie, os fundamentalistas se aproveitam da localização de Mossul, na província de Nínive, que ocuparam em junho último, transformando-a em seu reduto. Hatra fica a 110 quilômetros ao sul da cidade de quase 2 milhões de habitantes, e Nimrud, a menos de 40 quilômetros.
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