domingo, 9 de março de 2014

POR UM BRASIL MENOS GLOBELEZA




Você já fez uma reflexão sobre a imagem da mulher na nossa sociedade, sobretudo a da mulher negra e a violência a qual todas estamos expostas?

Essa violência assume muitas formas: física, sexual, psicológica e econômica e, pensando um pouquinho, a gente consegue perceber que elas se interligam, certo?

A morte de mulheres em decorrência de conflitos de gênero, ou seja, apenas pelo fato de serem mulheres (feminicídio) é assustadora: mais de 5000 por ano, uma mulher a cada hora e meia morre por causas violentas, e nessa conta não estão o trânsito e nem filas em hospitais.

Se você é mulher, tem que se cuidar ao quadrado! É assim em tempos de paz e muito pior em tempos de guerra.

Agora se você é mulher e negra, a situação piora, pois 61% dessas mortes são de mulheres negras.

Desde que o mundo é mundo a mulher é vista como um ser passível de subserviência, sobretudo sexual. E, embora em muitos países a imagem da mulher, o respeito a sua sexualidade e papel na sociedade tenham evoluido positivamente, existe, até hoje, no Brasil, uma aceitação cultural da violência contra a mulher.

Que mulher nunca se sentiu como um frango de padaria sendo observado pelo cachorro faminto? Quem nunca ouviu um: “Olha lá a fulana, tá pedindo!”?

A roupa que ela usa ou deixa de usar serve de justificativa para muitas atrocidades, afinal, o desejo sexual é uma coisa animal e o homem é macho alfa! Isso estaria certo se os homens fossem iguais aos animais em tudo, ou seja, não tivessem cérebro e controle do polegar opositor.

O tráfico negreiro e as relações escravocratas pioraram muito a situação para as mulheres negras. Afinal, se mulher é subserviente, uma mulher sem alma não passa de um objeto.

Exagero? Não é não! Muitas expressões que você ouve e talvez até repita por aí são “resquícios” atualíssimos desse subconsciente coletivo racista e machista. Exemplos? A morena da cor do pecado, mulata exportação, a Globeleza, tudo isso reforçado e difundido pela mídia nacional tendo como ponto alto o carnaval.

Por que a imagem da mulher negra é sempre sexualizada?

Já faz tempo que as mulheres foram promovidas a seres humanos! Uma hora dessas tenho esperança de todas sermos vistas assim, pelos homens e pelas mulheres também (sim menina, analise suas atitudes e vai achar um machismozinho enraizado no seu âmago) e por isso, eu gostaria que cada vez menos mulheres (negras principalmente) tivessem que ser expostas como mercadoria, pois para mim isso só reforça a nossa imagem como objetos sexuais e contribui para o aumento dos crimes, da violência e do tráfico de mulheres e crianças.

Será mesmo que todas as mulheres negras do Brasil só podem “subir” na vida para o posto de Globeleza, de empregada gostosa na novela ou mulata no carnaval?

Por que uma mulher que é dona da sua sexualidade, do seu corpo é vilã? Vulgar? Tenho certeza que não está pedindo nada, a não ser respeito às suas escolhas.

A imagem da mulher e a violência à qual está exposta são assuntos densos e tem vários desdobramentos, mas acredito que tenha criado uma oportunidade de reflexão.

Queremos um Brasil menos Globeleza?

Inté +

Imagem: Kaiser Permanente History , CDN

Fonte dos dados: Ipea

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