domingo, 23 de março de 2014

RUBENS PAIVA: COMISSÃO VAI INTIMAR COORONEL


Militar reformado confessou ao DIA ter participado de operação para sumir com corpo de deputado. Ele vai ser convocado para dar esclarecimentos

HERCULANO BARRETO FILHO


Rio - O coronel reformado do Exército Paulo Malhães, que revelou com exclusividade ao DIA ter sido um dos responsáveis pela operação montada para sumir com o corpo do então deputado federal Rubens Paiva, será intimado a prestar esclarecimentos pela Comissão Nacional da Verdade na próxima semana.

Rubens Paiva era deputado pelo Rio. Ele foi preso em 1971, torturado e morto. Seu corpo nunca foi achadoFoto: Reprodução

Preso em casa no dia 20 de janeiro de 1971 por agentes do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa), o deputado foi entregue ao DOI-Codi, no Rio, onde foi torturado até a morte. Depois, foi enterrado no Alto da Boa Vista. Como temiam que as obras na Avenida Edson Passos revelassem o cadáver, os militares o retiraram de lá e enterraram o corpo novamente, na Praia do Recreio dos Bandeirantes. Dois anos depois, Malhães participou de uma missão para localizá-lo. Desta vez, para dar um destino definitivo ao corpo de Rubens Paiva.


Malhães confessou ter participado da missão com duas equipes, que trabalharam por 15 dias para localizar o corpo. Também teriam participado da missão o coronel reformado José Brant Teixeira e os sargentos Jairo de Canaan Cony, que já faleceu, e Iracy Pedro Interaminense Corrêa.


Além de Malhães, os outros militares reformados também podem ser intimados a prestar depoimento na Comissão da Verdade. O assunto será discutido por um colegiado, na segunda-feira. “Essa revelação tem um resultado simbólico, porque a família de Rubens Paiva lutou pelo esclarecimento dos fatos ao longo de uma vida inteira”, argumentou a advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha. Ela coordenou a investigação do caso Rubens Paiva.


A advogada acredita que Malhães pode ajudar a esclarecer qual foi o destino dado ao corpo do deputado. Ele disse que o corpo pode ter sido jogado no mar ou em um rio. “As explicações vão surgir. Claro que essa pessoa lembra exatamente onde o corpo foi jogado”, comentou Rosa.


Embora informe que esse é um dos 107 casos relacionados à ditadura que estão sendo investigados, o Ministério Público Federal afirma que está se empenhando em esclarecer o mistério.


Assessor da Comissão da Verdade de São Paulo, Ivan Seixas acredita que a revelação feita pelo militar reformado pode ajudar na localização dos corpos da Casa da Morte, nome dado a um centro clandestino de tortura e assassinatos durante a Ditadura Militar, em Petrópolis. “Paulo Malhães era um dos mais importantes membros da repressão e participou de muitas mortes. A informação levada por ele precisa ser levada a sério, porque a história é verdadeira. Ele sabe do paradeiro dos desaparecidos na Casa da Morte”, justificou Seixas. O escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado desaparecido, não quis comentar o assunto.


Em janeiro deste ano, a Comissão da Verdade do Rio divulgou um depoimento do general reformado Raymundo Ronaldo Campos. Ele revelou uma farsa montada pelo Exército para sustentar que Paiva teria sido resgatado por companheiros “terroristas. No mês seguinte, a Comissão Nacional da Verdade apresentou um relatório, apontando o nome de dois autores do crime. Segundo o relatório, o crime teria sido cometido pelo tenente Antônio Fernando Hughes de Carvalho e pelo comandante do DOI, o major José Antônio Nogueira Belham.

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