terça-feira, 2 de junho de 2015

As ideias justas triunfarão ou triunfará o desastre


Coluna de Fidel Castro


A sociedade mundial não conhece trégua nos últimos anos, particularmente desde que a Comunidade Econômica Europeia, sob a direção férrea e incondicional dos Estados Unidos, considerou que tinha chegado a hora de ajustar as contas com o que restava de duas grandes nações que, inspiradas nas ideias de Marx, tinham levado a cabo a proeza de pôr fim à ordem colonial e imperialista imposta ao mundo pela Europa e os Estados Unidos.


Na antiga Rússia eclodiu uma revolução que comoveu o mundo.

Esperava-se que a primeira grande revolução socialista teria lugar nos países mais industrializados da Europa, como Inglaterra, França, Alemanha e o Império Austro-Húngaro. Contudo, esta aconteceu na Rússia, cujo território se estendia pela Ásia, desde o norte da Europa até o sul do Alasca, que também tinha sido território czarista, vendido por uns dólares ao país que seria posteriormente o mais interessado em atacar e destruir a revolução e o país que a engendrou.

A maior proeza do novo Estado foi criar uma União capaz de agrupar seus recursos e compartilhar sua tecnologia com grande número de nações débeis e menos desenvolvidas, vítimas inevitáveis da exploração colonial. Seria ou não conveniente no mundo atual uma verdadeira sociedade de nações que respeitasse os direitos, crenças, cultura, tecnologias e recursos de lugares acessíveis do planeta que tantos seres humanos gostam de visitar e conhecer? E não seria muito mais justo que todas as pessoas que hoje, em frações de segundos se comunicam de um extremo a outro do planeta, vejam nos demais um amigo ou um irmão e não um inimigo disposto a exterminá-lo com os meios que o conhecimento humano foi capaz de criar?

Por crer que os seres humanos poderiam ser capazes de abrigar tais objetivos, penso que não há direito algum a destruir cidades, assassinar crianças, pulverizar casas, semear terror, fome e morte em todas as partes. Em que rincão do mundo tais fatos poderiam se justificar? Se se recorda que ao final do massacre da última contenda mundial o mundo se iludiu com a criação das Nações Unidas, é porque grande parte da humanidade a imaginou com tais perspectivas, embora não estivessem cabalmente definidos os seus objetivos. Um colossal engano é o que se percebe hoje quando surgem problemas que insinuam a possível eclosão de uma guerra com o emprego de armas que poderiam pôr fim à existência humana.

Existem sujeitos inescrupulosos, ao que parece não poucos, que consideram um mérito sua disposição a morrer, mas sobretudo a matar para defender vergonhosos privilégios.

Muitas pessoas se assombram ao escutar as declarações de alguns porta-vozes europeus da Otan quando se expressam com o estilo e o rosto das SS nazistas. Em algumas ocasiões, até se vestem com trajes escuros em pleno verão.

Nós temos um adversário bastante poderoso como é o nosso vizinho mais próximo, os Estados Unidos. Advertimo-los de que resistiríamos ao bloqueio, ainda que isso pudesse implicar um custo muito elevado para nosso país. Não há pior preço do que capitular frente ao inimigo que sem razão nem direito te agride. Era o sentimento de um povo pequeno e isolado. O restante dos governos deste hemisfério, com raras exceções, tinham-se somado ao poderoso e influente império. Não se tratava, de nossa parte, de uma atitude pessoal, era o sentimento de uma pequena nação que desde o início do século era uma propriedade não só política, mas também econômica dos Estados Unidos. A Espanha nos cedeu a esse país depois de termos sofrido quase cinco séculos de colonialismo e de um incalculável número de mortos e perdas materiais em luta pela independência.

O império se reservou o direito de intervir militarmente em Cuba em virtude de uma pérfida emenda constitucional que impôs a um Congresso impotente e incapaz de resistir. Além se serem os donos de quase tudo em Cuba - abundantes terras, as maiores centrais açucareiras, as minas, os bancos e até a prerrogativa de imprimir nosso dinheiro -, proibia-nos de produzir grãos alimentícios suficientes para alimentar a população.

Quando a URSS se desintegrou e o Campo Socialista também desapareceu, continuamos resistindo, e juntos, o Estado e o povo revolucionários, prosseguimos nossa marcha independente.

Não desejo, contudo, dramatizar esta modesta história. Prefiro ressaltar que a política do império é tão dramaticamente ridícula que não tardará muito a passar à lixeira da história. O império de Adolf Hitler, inspirado na cobiça, passou para a história sem mais glória do que o alento que deu aos governos burgueses e agressivos da Otan, que os converte no palhaço da Europa e do mundo, com seu euro, que assim como o dólar, não tardará a transformar-se em papel imprestável, chamado a depender do yuan e também dos rublos, diante da pujante economia chinesa estreitamente unida ao enorme potencial econômico e técnico da Rússia.

Algo que se converteu em um símbolo da política imperial é o cinismo.

Como se sabe, John McCain foi o candidato republicano às eleições de 2008. O personagem saiu à luz pública quando em sua condição de piloto foi derrubado enquanto seu avião bombardeava a populosa cidade de Hanói. Um foguete vietnamita o alcançou em plena ação e a aeronave e o piloto caíram em um lago situado nas imediações da capital, fronteiriça com a cidade.

Um antigo soldado vietnamita já reformado, que ganhava a vida trabalhando nas proximidades, ao ver cair o avião e um piloto ferido que tratava de se salvar, movimentou-se para ajudá-lo; enquanto o velho soldado prestava essa ajuda, um grupo da população de Hanói, que sofria os ataques da aviação, corria para ajustar contas com aquele assassino. O mesmo soldado persuadiu os vizinhos de que não o fizessem, pois já era um prisioneiro e sua vida devia ser respeitada. As próprias autoridades ianques se comunicaram com o governo, rogando que não agissem contra esse piloto.

À parte as normas do governo vietnamita de respeito aos prisioneiros, o piloto era filho de um almirante da Armada dos Estados Unidos que tinha desempenhado um papel destacado na Segunda Guerra Mundial e ainda estava ocupando um importante cargo.

Os vietnamitas haviam capturado um peixe grande naquele bombardeio e como é lógico, pensando nas inevitáveis conversações de paz que deveriam pôr fim à guerra injusta que lhes haviam imposto, desenvolveram amizade com ele, que estava muito feliz de tirar todo o proveito possível daquela aventura. Devo dizer que não foi nenhum vietnamita que me contou isso, nem eu jamais teria perguntado. Eu li sobre isso, que se ajusta completamente a determinados detalhes que conheci mais tarde. Também li um dia que Mister McCain escreveu que, sendo prisioneiro no Vietnã, enquanto era torturado, escutou vozes em espanhol assessorando os torturadores sobre o que deviam fazer e como fazê-lo. Eram vozes de cubanos, segundo McCain. Cuba nunca teve assessores no Vietnã. Seus militares sabem de sobra como fazer sua guerra.

O general Giap foi um dos chefes mais brilhantes de nossa época, que em Dien Bien Phu foi capaz de situar os canhões por selvas intrincadas e abruptas, algo que os militares ianques e europeus consideravam impossível. Com esses canhões, disparavam desde um ponto tão próximo que era impossível neutralizá-los sem que as bombas nucleares afetassem também os invasores. Os demais passos pertinentes, todos difíceis e complexos, foram dados para impor às forças europeias cercadas uma vergonhosa rendição.

A raposa McCain tirou todo o proveito possível das derrotas militares dos invasores ianques e europeus. Nixon não pôde persuadir seu conselheiro de Segurança Nacional, Henry Kissinger, de que aceitasse a ideia sugerida pelo próprio presidente, quando em momentos de relaxamento lhe dizia: Por que não lançamos uma dessas bombinhas, Henry? A verdadeira bombinha chegou quando os homens do presidente trataram de espionar seus adversários do partido oposto. Isso, sim, não podia ser tolerado!

Apesar disso, o mais cínico no senhor McCain foi sua atuação no Oriente Médio. O senador McCain é o aliado mais incondicional de Israel nas teias do Mossad, algo que nem os piores adversários teriam sido capazes de imaginar. McCain participou junto a esse serviço na criação do Estado Islâmico que se apoderou de uma parte considerável e vital do Iraque, assim como segundo se afirma, de um terço do território da Síria. Tal Estado já conta com receitas milionárias, e ameaça a Arábia Saudita e outros Estados dessa complexa região que fornece a parte mais importante do combustível mundial.

Não seria preferível lutar por produzir mais alimentos e produtos industriais, construir hospitais e escolas para os bilhões de seres humanos que deles necessitam desesperadamente, promover a arte e a cultura, lutar contra enfermidades massivas que levam à morte mais da metade dos doentes, enviar trabalhadores da saúde ou tecnólogos que segundo se vislumbra, poderiam finalmente eliminar enfermidades como o câncer, o ebola, o paludismo, a dengue, a chikungunya, a diabetes e outras doenças que afetam as funções vitais dos seres humanos?

Se hoje é possível prolongar a vida, a saúde e o tempo útil das pessoas, se é perfeitamente possível planificar o desenvolvimento da população em virtude da produtividade crescente, a cultura e o desenvolvimento dos valores humanos, o que esperam para fazê-lo?

Triunfarão as ideias justas ou triunfará o desastre.

Fidel Castro Ruz
31 de agosto de 2014, às 22h25

Fonte: Cubadebate
Tradução de José Reinaldo Carvalho, Blog da Resistência

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