Para Transparência Internacional, 'impunidade ainda não venceu' no Brasil
Entidade focada no combate à corrupção, porém, alerta para o perigo de prescrição de crimes no julgamento do mensalão
19 de setembro de 2013 | 19h 52
Jamil Chade - O Estado de S. Paulo
GENEBRA - A decisão do Supremo Tribunal Federal de optar por um novo julgamento do mensalão, o que adiará a conclusão do processo para 2014, "não significa que a impunidade venceu". Quem faz a avaliação é a Transparencia Internacional, a principal entidade no mundo de combate à corrupção. Ainda assim, a ONG aponta para o perigo de que recursos possam levar à prescrição de alguns crimes e defende que a Justiça e a sociedade brasileira sem o caso para repensar as leis no País.
"Ainda não podemos tratar isso como impunidade. A impunidade ainda não ganhou", disse Alejandro Salas, um dos representantes da ONG, com sede na Europa e que vem acompanhando de perto a situação do combate à corrupção no Brasil. "Quando o processo do mensalão começou no Brasil, vimos isso como um sinal muito positivo e que rompia com a tradição do Brasil de que poderosos e ricos não são punidos. Ainda acreditamos que isso vai continuar", afirmou.
Sua grande preocupação é com recursos que poderiam levar à prescrição de alguns crimes de réus já condenados. A decisão de quarta-feira abre a oportunidade para que 12 dos 25 réus tenham direito de cumprir penas menores ou até se livrar das punições por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Caso não consigam ser absolvidos, os condenados podem ainda se beneficiar da prescrição dos crimes.
"Isso é uma preocupação real e acreditamos que o momento deva ser usado no Brasil justamente para abrir um debate sobre leis mais fortes que não permitam que isso ocorra", disse Salas.
"Aquelas pessoas envolvidas e citadas no caso ainda não sao inocentes. O que é importante agora é que o Supremo siga à risca as leis e os processos e não se deixe influenciar nem por debates políticos e nem por uma vontade de ser popular", declarou Salas. "A Justiça não pode estar em função da popularidade", insistiu.
No início do ano, a entidade publicou uma pesquisa revelando que 81% dos entrevistados no Brasil estimam que os partidos são "corruptos ou extremamente corruptos". Já a média mundial é de 65%. O informe ainda revela que 72% da população brasileira aponta o Congresso como corrupto e como a segunda instituiçao nacional mais afetada pelo problema, contra uma média mundial de apenas 57%. 70% dos entrevistados no Brasil acreditam que a corrupção no setor público é muito séria, contra uma média mundial de apenas 50%.
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