Sebastião Salgado narra momentos
impressionantes do projeto 'Genesis'
Brasileiro ícone da fotografia lança em São Paulo mostra com 245 imagens.
Em vídeos, ele lembra experiências do 1º trabalho em que clicou animais.
"Eu me vi, eu mesmo, há 50 mil anos atrás, na minha espécie, indo tomar água e vendo minha imagem pela primeira vez ao identificar que aquela imagem era a minha." É assim que o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, ícone da fotografia contemporânea, descreve um dos momentos vividos dentro dos 8 anos de produção de "Genesis", seu trabalho mais recente que chega a São Paulo nesta semana.
A referência é ao momento em que Salgado observa um jovem gorila identificando seu próprio reflexo na lente da câmera, como ele explica em vídeo(assista ao lado). Famoso por registros documentais impressionantes, como o da Serra Pelada na década de 1980 e o ensaio "Êxodos" mostrando povos migrantes pelo mundo, o brasileiro teve em "Genesis" as primeiras experiências fotografando animais para um grande projeto.
Apesar de o nome do projeto ser igual ao do primeiro livro da Bíblia, Salgado deixa clara sua admiração por Charles Darwin e sua teoria da evolução ao lembrar de sua entrada no grupo de primatas na África.
"99% do que nós temos, o gorila tem. O gorila, na verdade, somos nós em evolução. Quando você vem fotografar aqui, você é recebido por uma família. Você tem o avô, tem o pai, tem os filhos. É uma relação vertical, de avô, pai e filho. É incrível", relata.
O fotógrafo recordou do primeiro animal que teve diante de suas lentes no projeto, uma tartaruga-gigante-de-galápagos. Diante da foto imponente da tartaruga, que chega a medir 1,5 metro e pesar 250 quilos, ele conta que o primeiro contato não foi receptivo. "Comecei a andar na direção dela, e ela não gostou. Quando passei a caminhar lentamente para trás, respeitando o território, ela passou a me aceitar", afirma.
Outra experiência animal impressionante, segundo Salgado, foi o contato com uma baleia-franca-austral no litoral de Golfo Nuevo, na península Valdés, Argentina.(vídeo ao lado)
"Ela vinha, no início, com o bebezinho dela, mas não se aproximava do barco. Depois, devagarinho, foi se aproximando, até o ponto em que ela vinha ao barco e eu tocava nela como se fosse um cachorrinho. (...) Ela é de uma sensibilidade extrema. Eu passava a mão na face dela e via a pele dela inteirinha tremer, até o fim da cauda. (...) Ela às vezes pegava a gente entre a cabeça e a cauda, e eu não podia fotografar. A gente ficava dentro dela! Ficou amiga nossa", recorda.
Já no vídeo abaixo, Salgado explica como ocorreu a única das 245 fotografias em que ele mesmo aparece no quadro, refletido no olho de um filhote de elefante-marinho.
Na coletiva de imprensa seguida de visita guiada pelos salões da exibição no Sesc Belenzinho, Zona Leste de São Paulo, Salgado reiterou diversas vezes o que parece ser a conclusão principal de suas viagens por pontos isolados e extremos do planeta: precisamos repensar a forma em que vivemos em sociedade, em todo o mundo.
"Nós criamos uma máquina infernal", afirma, referindo-se também aos governos que seguem com políticas não sustentáveis; governos "eleitos por nós", lembra Salgado. Para o fotógrafo, portanto, a mudança para um convívio mais correto no e com o planeta deve partir, igualmente, de nós.
Questionado pelo G1 sobre as críticas que "Genesis" recebeu no Brasil e no exterior por contar com o patrocínio da mineradora Vale, ele voltou a defender essa visão, dizendo que uma mudança na direção de um mundo mais sustentável não vai partir das grandes mineradoras, petrolíferas ou outras grandes empresas. "A mudança não vai partir deles, vai ser de todos nós."
Entre os povos fotografados em "Genesis" estão indígenas da região do Xingu. A Vale tem participação no consórcio Norte Energia, que irá construir e administrar a futura hidrelétrica. Considerada uma das principais obras de infraestrutura em andamento no país, ambientalistas e o Ministério Público são contra a construção por considerar que a usina vai prejudicar a comunidade indígena e a natureza da região.
8 anos de produção
"Genesis" é composta por 245 imagens capturadas em oito anos de viagens aos recantos mais A jornada para a composição do projeto, que passou pelo Museu de História Natural de Londres no 1º semestre e também pelo Jardim Botânico do Rio até o mês passado, começou em 2004 e durou até 2012. Salgado realizou 30 viagens utilizando aviões de pequeno porte, helicópteros, barcos e canoas para atingir os pontos mais remotos do planeta.
"Genesis" é composta por 245 imagens capturadas em oito anos de viagens aos recantos mais A jornada para a composição do projeto, que passou pelo Museu de História Natural de Londres no 1º semestre e também pelo Jardim Botânico do Rio até o mês passado, começou em 2004 e durou até 2012. Salgado realizou 30 viagens utilizando aviões de pequeno porte, helicópteros, barcos e canoas para atingir os pontos mais remotos do planeta.
Genesis, de Sebastião Salgado
Curadoria - Lélia Wanick Salgado
SESC Belenzinho - Rua Padre Adelino, 1000
A partir desta sexta-feira (5), até 1º de dezembro
Visitação: de terça a sábado, das 10h às 19h30
Curadoria - Lélia Wanick Salgado
SESC Belenzinho - Rua Padre Adelino, 1000
A partir desta sexta-feira (5), até 1º de dezembro
Visitação: de terça a sábado, das 10h às 19h30
Habitante da península de Yamal, na Sibéria
Mulheres da tribo Zo'e, na Amazônia brasileira
- Uma baleia-franca-austral (Eubalaena australis ) navega no cenário do Rochedo de Puerto Pirâmides, a principal referência geográfica do litoral de Golfo Nuevo. Península Valdés, Argentina, 2004
.Na região da bacia do Xingu, estado de Mato Grosso, um grupo de indígenas waurá pesca na lagoa Piyulaga, perto de sua aldeia. Mato Grosso, Brasil, 2005.
Elefante corre ao ouvir carro se aproximar, na Zâmbia
Pinguins em iceberg próximo ao extremo Sul do planeta
Habitante da península de Yamal, na Sibéria
Exposição traz mais de 200 fotos de Sebastião Salgado clicadas pelo mundo
A partir de 5 de setembro, 245 fotografias de Sebastião Salgado chegam ao Sesc Belenzinho, em São Paulo, na exposição "Genesis", onde fica em cartaz até 1º de dezembro. Com curadoria de sua esposa, Lélia Wanick Salgado, a mostra estreou em Londres no mês de abril e já esteve em cartaz no Jardim Botânico do Rio, de maio a agosto.
Montanhas, desertos, animais beirando a extinção, florestas e tribos foram retratadas pelo fotógrafo entre 2004 e 2011 em diversos locais do mundo. Cada viagem levou cerca de dois anos de planejamento, segundo explicou Sebastião Salgado em coletiva de imprensa nesta terça (3).
"Genesis, para mim, fecha um ciclo de histórias. Eu só aprendi o que aprendi para fazer Genesis no fim", afirmou o fotógrafo que, anteriormente, mergulhou em projetos de longa duração sobre trabalhadores e sobre populações de exilados.
SEBASTIÃO SALGADO COMENTA IMAGEM DE "GENESIS"
Para o casal, a exposição é uma extensão de um projeto de preservação do planeta. "A gente precisa aprender a respeitar e viver de uma forma mais doce. A nossa espécie tomou o planeta como se fosse só dela, como se as outras espécies fossem suas escravas", argumenta Sebastião.
Divididas em cinco seções, a mostra possui no Sesc Belenzinho, assim como no Rio, uma parte ao ar livre e outra em ambiente fechado.
Com a ajuda de barcos, aviões de pequeno porte e canoas, a série teve início nas Ilhas de Galápagos, local que, junto da Nova Guiné e irian Jaya, deu origem à seção "Santuários" da mostra.
Pinguins, elefantes marinhos e baleias estão na seção "Planeta Sul", com fotos feitas no Sul da Geórgia, nas Malvinas e nas Ilhas Sandwich.
Em "Terras do Norte", são retratados o Alasca e as montanhas rochosas do Colorado, nos Estados Unidos. O norte da Sibéria e o norte da Rússia também aparecem neste recorte.
Os gorilas do Parque Virunga, na divisa de Ruanda, Congo e Uganda; as tribos da Etiópia; e a vida selvagem na Botswana são retratados na seção "África".
Em "Amazonia e Pantanal", além de florestas e rios, Sebastião apresenta imagens de tribos no alto Rio Xingu e da isolada tribo Zo'e, onde afirmou sentir estar no "paraíso".
As imagens também compõem o livro "Genesis", editado e desenhado pela esposa e curadora Lélia Salgado.
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