quinta-feira, 10 de agosto de 2017

TRÁFICO DE PESSOAS É O TERCEIRO CRIME MAIS LUCRATIVO DO MUNDO, DEPOIS DO TRÁFICO DE DROGAS E DE ARMAS



TRÁFICO DE PESSOAS - ONU

   
   FOTO ONU




Estima-se que milhares de pessoas sejam vítimas de tráfico atualmente. É quase impossível pensar que cada um desses números represente um ser humano, e assim este problema pode parecer insuperável. Mas não é.
No Dia Mundial Contra o Tráfico de Pessoas (30 de julho), devemos acreditar não somente que podemos fazer algo, mas também dar passos significativos para eliminar este problema.

Na Organização Internacional para as Migrações (OIM), lidamos com o tráfico de pessoas todos os dias. Sabemos que o tráfico envolve mais do que sequestro e venda de pessoas, mas também pessoas forçadas a realizar trabalhos contra sua vontade ou vítimas forçadas a doar um rim ou outros órgãos.

O tráfico de pessoas pode ocorrer de forma sutil, como acontece no caso rotas de emprego, nas quais os trabalhadores precisam pagar taxas de recrutamento e colocação, ou quando seus salários são retidos ou não podem abandonar seus patrões, o que os torna vulneráveis a situações que mais tarde podem resultar em exploração ou tráfico.

Os migrantes que se movimentam em rotas regulares ou irregulares pelo mundo são bastante vulneráveis a este tipo de abusos. A maior parte das pessoas que começam suas jornadas e se colocam à disposição dos traficantes podem também ser vítimas de tráfico ao longo do percurso.

Além do nosso trabalho e o dos nossos parceiros na proteção e assistência a quase 90 mil vítimas de tráfico ao longo dos anos, trabalhamos incansavelmente para recolher e analisar dados globais sobre o tráfico para melhorar coletivamente e implementar melhores práticas e programas sobre como lidar com o tráfico de pessoas.

A título de exemplo, desde 2015, a OIM entrevistou cerca de 22 mil migrantes durante sua jornada nas rotas do Centro e Leste do Mediterrâneo. Trata-se da maior pesquisa realizada para explorar a vulnerabilidade dos migrantes ao tráfico de pessoas nas rotas do Mediterrâneo em direção à Europa. Cerca de 39% de pessoas entrevistadas tiveram uma experiência pessoal que indicava a presença de tráfico de pessoas ou outras práticas de exploração ao longo do percurso.

Muitas dessas pessoas reportaram experiência direta de abuso, exploração e práticas que incidem no tráfico de pessoas. Olhando apenas para a rota central, um percentual chocante de 73% dos entrevistados relatou essa experiência. Com esta pesquisa, a OIM está atualmente explorando os fatores que ditam a vulnerabilidade ao tráfico e exploração de pessoas ao longo do seu percurso.

É também nosso objetivo facilitar a análise transfronteiriça e inter-agências, bem como fornecer informação necessária à comunidade contra o tráfico para desenvolver um entendimento mais abrangente sobre o tema. Para tal, em breve lançaremos uma plataforma denominada “Dados Colaborativos Contra o Tráfico”. Com incidência nos dados da OIM e parceiros, esta será a primeira plataforma de acesso livre sobre vítimas de tráfico de pessoas.
À medida que desenvolvemos novo conhecimento e ferramentas, é imperioso partilhar nossos resultados e transmiti-los a outros líderes globais. Em setembro, num esforço para desenvolver o “Pacto Global sobre a Migração Segura, Ordeira e Regular”, os governos irão se reunir para discutir o tráfico de migrantes, tráfico de pessoas e formas contemporâneas de escravidão, incluindo a adequada identificação, proteção e assistência aos migrantes e vítimas de tráfico.

Esta será uma oportunidade ímpar para partilhar o nosso conhecimento acumulado ao longo de décadas de pesquisa e prática nesta área, bem como aprender com os outros.

Estamos aprendendo mais, e entendendo como melhor responder ao tráfico de pessoas, mas ainda existem muitas questões por responder. O que torna os migrantes vulneráveis ao tráfico? O que sabemos sobre pessoas que são traficadas agora? Como podemos garantir que estes atos sejam interrompidos no futuro?
Podemos ainda não ter todas as respostas, mas sabemos que devemos juntar informação e conhecimento para posterior partilha e benefício de todos. Não conhecemos todas as pessoas suscetíveis ao risco, mas precisamos tornar a migração mais segura, mais ordeira e mais regular para reduzir a vulnerabilidade dos migrantes. Não sabemos o número exato das vítimas de tráfico, mas sabemos de antemão que são demasiadas.
A luta contra o tráfico de pessoas requer um empenho de todos para responder a estas questões. Além disso, requer que respondamos melhor, com dados partilhados, conhecimento, e ferramentas, e requer também que respondamos em conjunto.


*William Lacy Swing é diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

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