Para explicar aos leitores o que está ocorrendo no Brasil, o Le Monde entrevistou Hervé Théry, geógrafo francês, professor do CNRS e da USP, e um dos maiores especialistas nas desigualdades brasileiras. O geógrafo estima que a onda de protestos supera a questão do reajuste das passagens de ônibus. "Cerca de 80% da população brasileira vive nos centros urbanos e eles são um concentrado de desigualdades. As pessoas são atraídas pelos empregos que as cidades oferecem, mas nelas falta infraestrutura, transporte, saneamento básico e moradia", diz Théry, acrescentando que o sistema de transporte público no Brasil é "saturado e arcaico".
O geógrafo destaca que o fato de o PT ter utilizado o tema dos transportes como um cavalo de batalha da campanha municipal em São Paulo, e logo em seguida ter reajustado os preços, criou um sentimento de indignação na população. "Existe um verdadeiro abismo entre pobres e ricos no Brasil, um dos países mais desiguais do mundo. Enquanto na Europa, a disparidade entre as classes sociais varia de 1 a 5, no Brasil vai de 1 a 100", afirma Théry.
O geógrafo explica que a ocupação urbana no Brasil é muito diferente do modelo da China e da Índia. "O Brasil está mais próximo do modelo norte-americano, em que os ricos vão para longe do centro, fugindo dos pobres." Ele conta o fenômeno de Alphaville, construída nos anos 1970, perto de São Paulo, um gueto da classe média alta paulistana. "Alphaville é copiada em todo o país", sublinha Théry.
O Le Monde ouviu vários brasileiros engajados nas manifestações e conclui que o movimento não deve arrefecer nos próximos dias. Diogo Grael, de Niterói, estudante de administração, conta que pela primeira vez ele está vendo os brasileiros unidos, "sem que seja por causa do carnaval ou do futebol". Segundo Grael, "falta muito a fazer para combater a corrupção e ter um serviço público de qualidade no Brasil".
Caio Martins, 19 anos, militante do Movimento Passe Livre, defende a gratuidade nos transportes. "Se eles podem aumentar a tarifa e em seguida voltar atrás, isso significa que as autoridades podem fazer muito mais", argumenta Martins.
"As pessoas estão experimentando a democracia direta, não tem mais retorno", diz Theresa Williamson, urbanista carioca da rede RioOnWatch, ouvida pelo Le Monde.
O geógrafo destaca que o fato de o PT ter utilizado o tema dos transportes como um cavalo de batalha da campanha municipal em São Paulo, e logo em seguida ter reajustado os preços, criou um sentimento de indignação na população. "Existe um verdadeiro abismo entre pobres e ricos no Brasil, um dos países mais desiguais do mundo. Enquanto na Europa, a disparidade entre as classes sociais varia de 1 a 5, no Brasil vai de 1 a 100", afirma Théry.
O geógrafo explica que a ocupação urbana no Brasil é muito diferente do modelo da China e da Índia. "O Brasil está mais próximo do modelo norte-americano, em que os ricos vão para longe do centro, fugindo dos pobres." Ele conta o fenômeno de Alphaville, construída nos anos 1970, perto de São Paulo, um gueto da classe média alta paulistana. "Alphaville é copiada em todo o país", sublinha Théry.
O Le Monde ouviu vários brasileiros engajados nas manifestações e conclui que o movimento não deve arrefecer nos próximos dias. Diogo Grael, de Niterói, estudante de administração, conta que pela primeira vez ele está vendo os brasileiros unidos, "sem que seja por causa do carnaval ou do futebol". Segundo Grael, "falta muito a fazer para combater a corrupção e ter um serviço público de qualidade no Brasil".
Caio Martins, 19 anos, militante do Movimento Passe Livre, defende a gratuidade nos transportes. "Se eles podem aumentar a tarifa e em seguida voltar atrás, isso significa que as autoridades podem fazer muito mais", argumenta Martins.
"As pessoas estão experimentando a democracia direta, não tem mais retorno", diz Theresa Williamson, urbanista carioca da rede RioOnWatch, ouvida pelo Le Monde.
As principais manifestações desta quinta-feira devem acontecer no Rio, onde ocorre o jogo Espanha eTaiti na Copa das Confederações, e em São Paulo. A questão do dia é: a mobilização será tão grande quanto nos dias anteriores?
O Movimento Passe Livre, que iniciou o protesto pela redução das tarifas, diz que a manifestação de hoje será mais festiva para comemorar a derrubada do reajuste, mas o movimento que teve a sua pauta de reivindicações ampliada continua.
Ontem, onze cidades já haviam anunciado a redução das tarifas, mas nem por isso os protestos foram suspensos. Em algumas cidades, como Niterói e Fortaleza, houve violência e confrontos com a polícia. Os manifestantes protestam também contra os gastos do governo para a realização das Copas do Mundo e das Confederações, contra o alto custo de vida e por mais saúde e educação.
Protestos no exterior
Brasileiros que moram no exterior continuam organizando atos em apoio ao movimento de protesto no Brasil. Ontem uma manifestação reunindo 600 pessoas aconteceu em Barcelona, e no próximo sábado dia 22, atos estão previstos em Paris e em Turim. Além do apoio ao movimento brasileiro e do repúdio a violência policial, eles tentam explicar aos estrangeiros o que esta acontecendo no Brasil.
O Movimento Passe Livre, que iniciou o protesto pela redução das tarifas, diz que a manifestação de hoje será mais festiva para comemorar a derrubada do reajuste, mas o movimento que teve a sua pauta de reivindicações ampliada continua.
Ontem, onze cidades já haviam anunciado a redução das tarifas, mas nem por isso os protestos foram suspensos. Em algumas cidades, como Niterói e Fortaleza, houve violência e confrontos com a polícia. Os manifestantes protestam também contra os gastos do governo para a realização das Copas do Mundo e das Confederações, contra o alto custo de vida e por mais saúde e educação.
Protestos no exterior
Brasileiros que moram no exterior continuam organizando atos em apoio ao movimento de protesto no Brasil. Ontem uma manifestação reunindo 600 pessoas aconteceu em Barcelona, e no próximo sábado dia 22, atos estão previstos em Paris e em Turim. Além do apoio ao movimento brasileiro e do repúdio a violência policial, eles tentam explicar aos estrangeiros o que esta acontecendo no Brasil.
Protestos no Rio de Janeiro, 17 de junho de 2013
Flickr/ Creative Commons
IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) lembra que no Brasil o transporte é financiado principalmente pelo dinheiro arrecadado com as passagens, enquanto que no exterior boa parte dos custos são arcados pelo Estado ou pelas empresas, um modelo que possibilita até a exoneração das tarifas, como já é o caso em algumas cidades europeias.
O aumento na tarifa de ônibus, estopim da onda de manifestações que tomou conta do Brasil, trouxe à tona a questão do financiamento do sistema de transportes públicos no país. André Ciola, um dos integrantes do movimento Passe Livre, compara os preços praticados nas cidades brasileiras com o contexto francês, enquanto Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, pesquisador do
A mobilização no exterior está intensa, e a expectativa é de que haja manifestações em mais de quarenta cidades até o fim de semana. Além de Paris, acontecem passeatas de apoio em Frankfurt, Turin, Porto Coimbra, Barcelona, Bolonha, Boston, Brisbane, Bruxelas, Buenos Aires entre outras. Todos os protestos estão sendo organizados nas redes sociais, principalmente no Facebook, e a maior parte deles ocorre no sábado. Em Paris, a página destinada ao evento já conta com a confirmação de mais de 6100 participantes. O local ainda será confirmado.
A imprensa internacional continua dando destaque aos protestos no Brasil, depois da mega-manifestação desta segunda-feira, que levou mais de 250 mil pessoas às ruas, em dezenas de cidades. Hoje a imprensa francesa voltou a dar destaque aos protestos, lembrando que, apesar do discurso apaziguador de Dilma nesta terça-feira, os brasileiros continuaram a sair às ruas. Ontem, a presidente declarou que seu governo está comprometido com as transformações sociai, demonstrando apoio aos manifestantes.
Em São Paulo, uma nova manifestação reuniu 50 mil pessoas, e acabou em quebra-quebra, com lojas saqueadas e tentativa de invasão na Prefeitura da cidade. Nas redes sociais, os internautas se demonstraram decepcionados com a violência na capital, depois da marcha pacífica de segunda-feira, que acabou sem incidentes.
Existe um temor de que a reinvidicação inicial do Movimento Passe Livre, que pede a revogação do aumento da tarifa do ônibus nas capitais, seja abafado por múltiplas demandas, explicou à RFI Pablo Orltellado, colaborador do movimento e professor da Escola de Comunicação e Artes da USP. Ontem o prefeito Fernando Haddad sinalizou que poderia rever a tarifa. Nesta terça-feira, 11 cidades anunciaram a redução do preço da passagem. O Movimento Passe Livre convocou uma nova manifestação para essa quinta-feira.
A imprensa internacional continua dando destaque aos protestos no Brasil, depois da mega-manifestação desta segunda-feira, que levou mais de 250 mil pessoas às ruas, em dezenas de cidades. Hoje a imprensa francesa voltou a dar destaque aos protestos, lembrando que, apesar do discurso apaziguador de Dilma nesta terça-feira, os brasileiros continuaram a sair às ruas. Ontem, a presidente declarou que seu governo está comprometido com as transformações sociai, demonstrando apoio aos manifestantes.
Em São Paulo, uma nova manifestação reuniu 50 mil pessoas, e acabou em quebra-quebra, com lojas saqueadas e tentativa de invasão na Prefeitura da cidade. Nas redes sociais, os internautas se demonstraram decepcionados com a violência na capital, depois da marcha pacífica de segunda-feira, que acabou sem incidentes.
Existe um temor de que a reinvidicação inicial do Movimento Passe Livre, que pede a revogação do aumento da tarifa do ônibus nas capitais, seja abafado por múltiplas demandas, explicou à RFI Pablo Orltellado, colaborador do movimento e professor da Escola de Comunicação e Artes da USP. Ontem o prefeito Fernando Haddad sinalizou que poderia rever a tarifa. Nesta terça-feira, 11 cidades anunciaram a redução do preço da passagem. O Movimento Passe Livre convocou uma nova manifestação para essa quinta-feira.
A violenta repressão aos protestos contra a alta do preço da passagem de ônibus em São Paulo é a prova de que as autoridades policiais brasileiras ainda não sabem lidar com protestos populares. A declaração é de Benoît Hervieu, responsável do Departamento Américas da organização Repórteres sem Fronteiras.“Infelizmente os métodos da ROTA, da polícia militar de São Paulo, não evoluíram muito desde a época da ditadura militar. Acho que existe realmente um problema de formação da polícia militar brasileira que foi criada para ações de repressão política, mas que não tem a preparação adequada num contexto de umprotesto social democrático”, disse Hervieu à RFI.
A entidade também fez um paralelo entre os protestos nas ruas de São Paulo e as manifestações contra o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, que atingiram a Turquia nas últimas semanas. “Os acontecimentos em São Paulo, mas também em outras cidades do Brasil, aconteceram depois de movimentos na Turquia. [Nos dois casos] parece que, muitas vezes, se criminaliza os movimentos sociais e os jornalistas que cobrem esses movimentos”.
O quarto dia de protesto contra o aumento das passagens foi marcado por forte violência contra os manifestantes e também contra jornalistas. O jornal 'Folha de S.Paulo' informou que teve 7 repórteres atingidos no protesto. Entre eles, Giuliana Vallone e Fábio Braga, que foram atingidos por tiros de bala de borracha no rosto. Um cinegrafista foi atingido com spray de pimenta no rosto por um policial. Um jornalista da revista 'Carta Capital' e um fotógrafo do portal 'Terra' foram detidos.
O jornalista Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz , também foi preso nos protestos em São Paulo e acusado de “formação de quadrilha” e “dano qualificado”. “Exigimos a libertação imediata de Pedro Ribeiro Nogueira, detido por motivos aberrantes. (...) Os jornalistas não podem ser assimilados aos manifestantes. Por conseguinte, as forças da ordem devem comprometer-se a respeitar a neutralidade e integridade dos profissionais da informação”, diz trecho de comunicado da Repórteres sem Fronteiras.
Em declarações à imprensa brasileira, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, lamentou a brutalidade dos confrontos entre manifestantes e policiais: "Na terça, a imagem que ficou foi da violência dos manifestantes. Hoje [ontem], infelizmente, não resta dúvida, a imagem que ficou e da violência policial", declarou Haddad.
Para a Repórteres sem Fronteiras, a violência da polícia contra a população e, sobretudo contra jornalistas, não deve melhorar a situação do Brasil. Neste ano, o país é apontado como o mais violento do continente americano para otrabalho de jornalistas. Desde janeiro deste ano, quatro jornalistas assassinados por causa do exercício da profissão.
A entidade também fez um paralelo entre os protestos nas ruas de São Paulo e as manifestações contra o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, que atingiram a Turquia nas últimas semanas. “Os acontecimentos em São Paulo, mas também em outras cidades do Brasil, aconteceram depois de movimentos na Turquia. [Nos dois casos] parece que, muitas vezes, se criminaliza os movimentos sociais e os jornalistas que cobrem esses movimentos”.
O quarto dia de protesto contra o aumento das passagens foi marcado por forte violência contra os manifestantes e também contra jornalistas. O jornal 'Folha de S.Paulo' informou que teve 7 repórteres atingidos no protesto. Entre eles, Giuliana Vallone e Fábio Braga, que foram atingidos por tiros de bala de borracha no rosto. Um cinegrafista foi atingido com spray de pimenta no rosto por um policial. Um jornalista da revista 'Carta Capital' e um fotógrafo do portal 'Terra' foram detidos.
O jornalista Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz , também foi preso nos protestos em São Paulo e acusado de “formação de quadrilha” e “dano qualificado”. “Exigimos a libertação imediata de Pedro Ribeiro Nogueira, detido por motivos aberrantes. (...) Os jornalistas não podem ser assimilados aos manifestantes. Por conseguinte, as forças da ordem devem comprometer-se a respeitar a neutralidade e integridade dos profissionais da informação”, diz trecho de comunicado da Repórteres sem Fronteiras.
Em declarações à imprensa brasileira, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, lamentou a brutalidade dos confrontos entre manifestantes e policiais: "Na terça, a imagem que ficou foi da violência dos manifestantes. Hoje [ontem], infelizmente, não resta dúvida, a imagem que ficou e da violência policial", declarou Haddad.
Para a Repórteres sem Fronteiras, a violência da polícia contra a população e, sobretudo contra jornalistas, não deve melhorar a situação do Brasil. Neste ano, o país é apontado como o mais violento do continente americano para o
O progressista Libération, que adora um trocadilho em suas manchetes, diz que 'para os brasileiros, a taça transbordou', uma maneira de dizer que o copo encheu e derramou, como a paciência do povo brasileiro que não aguenta mais ver as autoridades gastando milhões de reais em estádios de futebol, em vez de aplicar o dinheiro do contribuinte em escolas e hospitais públicos.
O jornal conta que na estreia do Brasil contra o Japão, no sábado, teve espetáculo dentro e fora do campo. A polícia teve de intervir para dispersar os manifestantes que pediam mais respeito com o dinheiro público. A mídia francesa presente entrevistou Romário, que explicou que o povo vai pagar a conta dos estádios, por meio dos impostos, mas não terá dinheiro paracomprar o ingresso caro da Fifa. Resultado: só as classes superiores vão assistir os jogos e ver os bonitos estádios brasileiros.
O Libération conta ainda que a presidente Dilma Rousseff e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, foram vaiados no estádio, que comporta 90 mil pessoas, e a polícia teve de abusar do gás lacrimogênio para dispersar os manifestantes.
O esquema de segurança chama a atenção do L'Equipe. O diário esportivo conta que a seleção do Tahiti, que estreia hoje contra a Nigéria, não entendeu até agora por que cada vez que sai dohotel , no Brasil, precisa ser acompanhada por 30 policiais. Os jogadores do Tahiti não estão acostumados com a multidão de torcedores nem com o risco dos assaltantes!
Aujourd'hui en France relata que a polícia carioca usou gás lacrimogênio e balas de borracha para dispersar os 3 mil manifestantes que tentaram se aproximar do Maracanã, ontem, antes do jogo do México com a Itália. O jornal cita os gastos 'colossais' do governo com a construção e areforma dos estádios, citando o montante de 12 bilhões de euros, 33 bilhões de reais.
Dilma foi copiosamente vaiada, escreve em nota de pé de página o Les Echos. O diário econômico constata que a insatisfação dos brasileiros com os gastos da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos de 2016 tende a aumentar, como já se vê atualmente com os reajustes do transporte público, dos aluguéis e alimentos.
O jornal conta que na estreia do Brasil contra o Japão, no sábado, teve espetáculo dentro e fora do campo. A polícia teve de intervir para dispersar os manifestantes que pediam mais respeito com o dinheiro público. A mídia francesa presente entrevistou Romário, que explicou que o povo vai pagar a conta dos estádios, por meio dos impostos, mas não terá dinheiro para
O Libération conta ainda que a presidente Dilma Rousseff e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, foram vaiados no estádio, que comporta 90 mil pessoas, e a polícia teve de abusar do gás lacrimogênio para dispersar os manifestantes.
O esquema de segurança chama a atenção do L'Equipe. O diário esportivo conta que a seleção do Tahiti, que estreia hoje contra a Nigéria, não entendeu até agora por que cada vez que sai do
Aujourd'hui en France relata que a polícia carioca usou gás lacrimogênio e balas de borracha para dispersar os 3 mil manifestantes que tentaram se aproximar do Maracanã, ontem, antes do jogo do México com a Itália. O jornal cita os gastos 'colossais' do governo com a construção e a
Dilma foi copiosamente vaiada, escreve em nota de pé de página o Les Echos. O diário econômico constata que a insatisfação dos brasileiros com os gastos da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos de 2016 tende a aumentar, como já se vê atualmente com os reajustes do transporte público, dos aluguéis e alimentos.
Sem bandeira clara, manifestações podem perder força daqui para frente
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Por Eduardo Simões e Felipe Pontes
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO, 21 Jun (Reuters) - A ausência de bandeira única e de uma liderança clara deve diluir a força das manifestações que tomaram o país nos últimos dias, após a decisão do grupo que iniciou os protestos de abandonar as demonstrações e da revogação do aumento da tarifa de transporte público nas principais cidades do país.
O Movimento Passe Livre (MPL), que coordenou os primeiros protestos contra o aumento das tarifas na cidade de São Paulo e que acabaram englobando outras reivindicações, anunciou nesta sexta-feira que não convocará mais protestos.
A decisão veio um dia após os protestos levarem mais de um milhão de pessoas às ruas de dezenas de cidades em todas as regiões do país, na quinta-feira. Em algumas cidades, como Rio de Janeiro, Belém e Porto Alegre, os protestos da véspera acabaram em confronto entre polícia e manifestantes e em depredação e vandalismo. Duas pessoas morreram.
"Não dá para ser adivinho, mas o que acho é que você não tem movimentos muito intensos para manter esse volume de manifestantes na rua durante muito tempo", disse à Reuters o cientista político Rubens Figueiredo, diretor-executivo da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP).
"Quando você não tem uma causa definida, é muito difícil você manter essa intensidade durante muito tempo. A tendência é isso ir diminuindo", acrescentou.
Por outro lado, o fato de o país estar organizando a Copa das Confederações pode manter a população nas ruas por mais algum tempo.
"Acho que até o final da Copa das Confederações, como há muita visibilidade, a tendência é que haja muita pressão para se manifestar, mas depois disso é uma incógnita, vai depender de como o poder público vai lidar", disse o professor de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Ignácio Cano.
Vários protestos aconteceram nos arredores dos estádios da Copa das Confederações em dias de partidas da competição preparatória para o Mundial do ano que vem. Cidades como Salvador, Brasília, Rio de Janeiro, Fortaleza e Belo Horizonte registraram confrontos entre policiais e manifestantes críticos aos gastos públicos com os eventos esportivos.
SEM AMEAÇA ÀS INSTITUIÇÕES
Diferentemente de manifestações anteriores, os protestos dos últimos dias se caracterizaram também pela rejeição aos partidos políticos.
Na visão de analistas, isso reflete a insatisfação de grande parte da população com a classe política e também um "divórcio" entre o que anseia a população e as ações dos políticos. Mas isso não é o bastante para ameaçar a democracia e as instituições do país.
"Se as instituições souberem separar o joio do trigo, aquilo que é uma crítica que eles devem incorporar, procurar ser mais eficientes, mais responsivos na qualidade dos serviços que prestam, mas ao mesmo tempo saberem que muito dessa crítica é completamente deslocada de sentido, não temo pelas nossas instituições", disse o cientista político da Fundação Getúlio Vargas Fernando Weltman.
"Nossas instituições são fortes, são sólidas e podem lidar com esse tipo de problema que faz parte de qualquer democracia. Se a democracia não puder lidar com o povo na rua fica complicado."
Para Figueiredo, da ABCOP, também não há riscos para a democracia, e a onda de protestos pode ter como resultado uma "chacoalhada institucional".
"Pode ser que o Congresso acelere a tramitação de reformas, principalmente a política e a administrativa, que os partidos olhem mais para a sociedade", completou.
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO, 21 Jun (Reuters) - A ausência de bandeira única e de uma liderança clara deve diluir a força das manifestações que tomaram o país nos últimos dias, após a decisão do grupo que iniciou os protestos de abandonar as demonstrações e da revogação do aumento da tarifa de transporte público nas principais cidades do país.
O Movimento Passe Livre (MPL), que coordenou os primeiros protestos contra o aumento das tarifas na cidade de São Paulo e que acabaram englobando outras reivindicações, anunciou nesta sexta-feira que não convocará mais protestos.
A decisão veio um dia após os protestos levarem mais de um milhão de pessoas às ruas de dezenas de cidades em todas as regiões do país, na quinta-feira. Em algumas cidades, como Rio de Janeiro, Belém e Porto Alegre, os protestos da véspera acabaram em confronto entre polícia e manifestantes e em depredação e vandalismo. Duas pessoas morreram.
"Não dá para ser adivinho, mas o que acho é que você não tem movimentos muito intensos para manter esse volume de manifestantes na rua durante muito tempo", disse à Reuters o cientista político Rubens Figueiredo, diretor-executivo da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP).
"Quando você não tem uma causa definida, é muito difícil você manter essa intensidade durante muito tempo. A tendência é isso ir diminuindo", acrescentou.
Por outro lado, o fato de o país estar organizando a Copa das Confederações pode manter a população nas ruas por mais algum tempo.
"Acho que até o final da Copa das Confederações, como há muita visibilidade, a tendência é que haja muita pressão para se manifestar, mas depois disso é uma incógnita, vai depender de como o poder público vai lidar", disse o professor de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Ignácio Cano.
Vários protestos aconteceram nos arredores dos estádios da Copa das Confederações em dias de partidas da competição preparatória para o Mundial do ano que vem. Cidades como Salvador, Brasília, Rio de Janeiro, Fortaleza e Belo Horizonte registraram confrontos entre policiais e manifestantes críticos aos gastos públicos com os eventos esportivos.
SEM AMEAÇA ÀS INSTITUIÇÕES
Diferentemente de manifestações anteriores, os protestos dos últimos dias se caracterizaram também pela rejeição aos partidos políticos.
Na visão de analistas, isso reflete a insatisfação de grande parte da população com a classe política e também um "divórcio" entre o que anseia a população e as ações dos políticos. Mas isso não é o bastante para ameaçar a democracia e as instituições do país.
"Se as instituições souberem separar o joio do trigo, aquilo que é uma crítica que eles devem incorporar, procurar ser mais eficientes, mais responsivos na qualidade dos serviços que prestam, mas ao mesmo tempo saberem que muito dessa crítica é completamente deslocada de sentido, não temo pelas nossas instituições", disse o cientista político da Fundação Getúlio Vargas Fernando Weltman.
"Nossas instituições são fortes, são sólidas e podem lidar com esse tipo de problema que faz parte de qualquer democracia. Se a democracia não puder lidar com o povo na rua fica complicado."
Para Figueiredo, da ABCOP, também não há riscos para a democracia, e a onda de protestos pode ter como resultado uma "chacoalhada institucional".
"Pode ser que o Congresso acelere a tramitação de reformas, principalmente a política e a administrativa, que os partidos olhem mais para a sociedade", completou.
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LÁ EM 2011, O ESTADÃO PUBLICAVA MATÉRIA SOBRE O MOVIMENTO PASSE LIVRE
Movimento Passe Livre quer implantar tarifa zero em SP
Por Marcela Bourroul Gonsalves
São Paulo - O Movimento Passe Livre, que realizou diversas manifestações no início deste ano contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo, lança hoje uma campanha pela implantação da tarifa zero no transporte coletivo da capital paulista. O evento acontece a partir das 19 horas na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP).
O MPL elaborou um projeto de lei para implantar a Tarifa Zero com base no projeto de mesmo nome desenvolvido pelo ex-secretário de transportes Lúcio Gregori, em 1992. Na noite de hoje também haverá o início da coleta de assinaturas para a proposta. São necessárias 500 mil assinaturas para que o projeto de iniciativa popular seja colocado em votação.
O projeto de lei defende a criação de um Fundo dos Transportes, que reunirá todo o recurso destinado aos transportes, bem como o repasse de valores arrecadados através de impostos de forma progressiva, para custear integralmente a tarifa nos ônibus de São Paulo. Além disso, institui o Conselho Municipal de Transportes que irá gerir todo o sistema, com a participação de representantes da Secretaria Municipal de Transportes (SMT) e representantes de bairros.
Entre os que confirmaram presença no evento estão a deputada Luiza Erundina, prefeita da cidade quando a tarifa zero foi proposta, e o professor da Escola Politécnica Mauro Zilbovicius, um dos elaboradores do antigo projeto.
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