por Jaque Barbosa
@jaksbarbosa
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Aproveitando que estamos perto da comemoração da Independência do Brasil, resolvemos trazer um assunto à tona que consideramos de grande importância.
Os primeiros dias de junho de 2013 vão ficar na memória de muitos brasileiros. Foi nessa época em que assistimos, incrédulos, ao país do futebol se unir e ir às ruas para protestar sobre muitas coisas que estavam entaladas na nossas gargantas há tempos. Um país que vivia adormecido e entorpecido, afogado em distrações como novelas e futebol, de repente pareceu acordar de um sono profundo. Seria o começo de uma nova fase.
Com as manifestações, conseguimos algumas mudanças, mas elas ainda estão longe de satisfazer as necessidades que motivaram tantos brasileiros a irem para as ruas. A população continua lutando, apesar de ser muitas vezes reprimida com violência pela polícia e pelo governo.
Assistimos a um povo que quer mudança, mas que não sabe muito bem por onde começar. Um povo que quer um recomeço, mas que está cansado de apanhar da polícia. Um povo que acredita que é possível sonhar com um país melhor para os nossos filhos, mas que precisa de orientação sobre a melhor forma de proceder. Por isso, viemos compartilhar com vocês um documentário inspirador produzido pelo GNT, e que pode servir de referência para o momento que estamos vivendo – ele se chama “Como iniciar uma revolução” e conta histórias de países que conseguiram mudanças através de uma abordagem não-violenta, muitos deles inspirados pelos ensinamentos de Gene Sharp.
Talvez você já tenha ouvido falar de Gene Sharp. Se não ouviu, a gente apresenta – ele é omaior especialista no mundo em revolução na violenta e teórico indicado ao prêmio Nobel da Paz. Gene comanda o instituto Albert Einstein, que fica em East Boston, com a diretora executiva Jamila Raqib. O instituto foi fundado em 1983 para disseminar o conhecimento da luta não violenta. Ele dedicou sua vida estudando formas de combater governos autoritários sem precisar apelar para a guerra. Criou assim, uma obra que ficou mundialmente conhecida – um livro chamado “Da ditadura à democracia“ – que foi o responsável por ajudar populações oprimidas a combater regimes autoritários através da não-violência, ajudando a libertar milhões de pessoas em diferentes países somente através do conhecimento. O trabalho de Sharp continua muito atual, e é extremamente poderoso, uma verdadeira luz no fim do túnel para povos oprimidos.
Segundo ele, “Nos últimos anos, várias ditaduras – tanto de origem interna quanto externa –entraram em colapso ou caíram quando confrontadas por pessoas desafiadoras e mobilizadas. Muitas vezes vistas como firmemente entrincheiradas e inexpugnáveis, algumas dessas ditaduras provaram ser incapazes de suportar o desafio político econômico e social organizado do povo.”
Apesar da nossa situação aqui no Brasil ser bem diferente da de vários países que vivem numa ditadura, os ensinamentos de Sharp podem ser bem úteis para o momento revolucionário que estamos vivendo.
Sharp criou uma lista com 198 armas não violentas, que vão desde boicote econômico, desobediência civil, protestos pacíficos, dentre outros. Ele afirma: “Se você consegue identificar as origens da força de um governo, como a legitimidade, o apoio popular, ou o apoio institucional, você descobre do que a ditadura depende para ter sucesso. Como todo poder depende de boa vontade, cooperação, obediência e ajuda de pessoas e instituições, o trabalho se torna simples. Basta causar uma diminuição no apoio, na legitimidade, na cooperação, na obediência e o regime vai enfraquecer. Se retirarmos essas fontes de poder, o regime cairá.”
Dentre os vários direcionamentos dados por Sharp, alguns deles são especialmente interessantes, como os abaixo:
> Superar a “atomização”
A atomização ocorre quando o regime tenta transformar todos os indivíduos da sociedade em uma unidade isolada. É uma das principais maneiras com que sistemas totalitários tentam controlar a população. Eles fazem todos temerem uns aos outros e terem medo de se manifestar e de agir juntos.
> Enfraquecer os pilares de apoio
Todo governo é sustentado por pilares. É preciso enfraquecer os pilares – a polícia, as instituições religiosas, os funcionários corruptos, etc. Para que os pilares mudem de lado, é preciso convencer pessoas de duas formas: mostrando que elas estão errando em prol do regime, ou deixar claro que haverá um lugar para elas numa sociedade futura. Não existe motivos para uma guerra entre vítimas e vítimas.
> Resistir à violência
Se os manifestantes decidem usar violência, o adversário tem vantagem nessa situação por estar muito melhor munido de armas. Não é inteligente lugar contra as melhores armas do governo/polícia, pois eles sempre terão vantagem nesse quesito. Mas é possível lutar com armas diferentes, utilizando inteligência e estratégia, que é algo bem mais difícil de ser derrubado pelos adversários.
Um exemplo bem sucedido de um país que conseguiu sua liberdade se inspirando nas teorias de Gene da não-violência, foi a Sérvia. Durante 10 anos, o povo sérvio lutou contra a ditadura instaurada por Milosevic. Srdja Popovic foi um dos fundadores do movimento de resistência nesse período e usou estratégias de não violência para organizar as manifestações.
Foi mais ou menos assim: Desde 1996 o grupo de resistência ao governo fazia passeatas quase todos os dias. A polícia intervinha com violência e o número de participantes diminuiu. O frio também era extremo. Então eles pensaram: por que não vamos para casa e fazermos barulhos de nossas varandas? Começaram então um panelaço que se espalhou pelas cidades, sempre das 19h30 até as 20h, como uma resposta à TV estatal querendo dizer: “não assistimos às suas bobagens“. De panelas, foram para os adesivos, que eram colados por toda parte. Nas passeatas, em vez de colocar os fortões na frente, eles colocavam as mulheres, avós, crianças, para que as polícias olhassem para rostos amigáveis. Os policiais receberam ordens para agir contra o povo, mas eles não obedeceram as ordens porque sabiam que atirando contra a multidão, eles se dariam mal junto com Milosevic. Depois de 10 anos de erros e acertos, aconteceu a manifestação final: em 05 de outubro de 2000, em média 250 mil pessoas se reuniram nas ruas, e fizeram uma invasão não violenta em um prédio do governo. Lá eles encontraram varias cédulas já preenchidas a favor de Milosevic para as eleições que estavam próximas. Naquele momento simbólico, o povo retomou o poder – sem precisar de armas – e o ditador renunciou.
Esse é só um exemplo que prova é sim possível ganhar uma batalha sem armas e com o povo unido. Desde 1980, diversas outras ditaduras ruíram perante um desafio não violento em diferentes países, como Estônia, Letônia e Lituânia, Polônia, Alemanha Oriental, Checoslováquia e Eslovênia, Madagascar, Mali, Bolívia, Filipinas, entre outros.
No Brasil, não temos uma ditadura, e acredito que o povo não tenha vontade e nem intenção de derrubar o governo. Mas histórias de povos que já passaram pelo que estamos passando sempre podem nos ajudar a pensar nos melhores caminhos e soluções para os próximos passos. Afinal, a luta está apenas começando.
Se você se interessa pelo momento político e social que estamos vivendo, vale a pensa reservar um tempo do seu dia para assistir a esse documentário:
Se quiser se aprofundar mais ainda no tema, e conhecer os 198 métodos de protesto não violentos e de persuasão criados por Sharp, recomendamos ler a obra “Da ditadura à democracia” – é possível fazer o download gratuito em vários lugares da web já que eles fizeram questão de que o livro se espalhasse para o maior número de pessoas possíveis.
3 comentários:
Essas medidas pacificas foram airia.
Resultado mais de 100.000 mortos.
Essas medidas pacificas foram tomadas na Síria.
Resultado mais de 100.000 mortos.
Na Ukrania, resultado, possível guerra termo nuclear, com a destruição da Civilização.
Tem razão. Um grande abraço
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